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Prefácio - Gonzalo Vecina

Prefácio - Gonzalo Vecina

   Confesso que ser professor é minha vida, é o que mais gosto de fazer – estar com alunos e buscar construir conhecimentos e experiências coletivamente. Mas tenho um grave defeito para ser um bom professor: sou ágrafo!

   Nestes recentes tempos pandêmicos, durante os quais experimentei sensações de terror e medo pelo que acontecia com o que eu conhecia como mundo e ainda envolto nas trevas do desgoverno que vivemos, eu tive que aprender a superar minha deficiência e escrevi, não tudo que deveria, mas algumas coisas para cumprir com minhas obrigações de participar dessa luta contra a pandemia e suas terríveis mazelas e contra o pandemônio do governo que elegemos!

   Foi nessa luta que conheci, em alguma entrevista, o Luiz Carlos Dias. E aprendi que um professor de Química tinha muito a dizer ao mundo da saúde sobre tudo que estávamos vivendo e sofrendo. Fui buscar informações sobre ele e saber de sua vida – o que aqui também neste livro você, leitor, poderá conferir –: uma biografia fantástica e uma atuação voltada para melhorar a sociedade com e sem pandemia. Com e sem pandemônio.

   Aí ele me convida para prefaciar seu livro e, portanto, mais uma vez subverter meu agrafismo. Sim, por uma excelente causa: a preservação de nossa memória desses dias tão difíceis.

Alguns dos textos aqui presentes eu já os tinha lido na imprensa ou nas publicações que circularam durante a pandemia, participei de alguns “Ponto e Contraponto” ao lado do Luiz e fui assimilando a sua postura em relação à ciência e à questão da boa informação. Também busquei, durante esse período, travar essa luta, mas com armas menos letais que o Luiz. Ele usou como arma o conhecimento que tão vastamente possui, eu me contentei em ser um arauto do óbvio, o que, de certa maneira, também acredito que foi muito útil.

   Um dos textos que estão logo no início do livro se intitula “Desinformação não é falta de informação”, o que é muito real, ainda mais nestes tempos onde existe uma revolução informacional, mas nem toda informação é verdadeira. Então, o papel de transmitir a informação, seja através da sua tradução para uma linguagem mais simples ou decodificando essa informação mais complexa – sobre vacinas, epidemiologia, doenças, proteção –, foi fundamental para a sociedade conseguir ultrapassar o transe que vivemos.

   Acho que esse mundo tão carregado de informação é melhor que os que vivemos antes, mas temos que aprender a separar o verdadeiro do falso, e creio que a maneira de fazer isso não é censurando e, sim, explicando, traduzindo, clareando. Sim, são necessários muitos esforços para conseguir fazer frente à imensa quantidade de mentiras e falsidades que foram disseminadas durante a pandemia. Aliás, recomendo a leitura cuidadosa do Capítulo  1. Lá, nosso autor faz uma lista escabrosa de parte das falsidades com as quais tivemos que nos defrontar e que em grande parte foram clareadas por sua ação.

   Com certeza temos que construir uma caudalosa memória destes três anos. Cometemos muitos erros e aí não me refiro somente ao pandemônio, também à pandemia e às ações internas que vimos aflorar, inclusive dentro de nossas tão queridas universidades. Temos que colocar o dedo na ferida e registrar esses acontecimentos – esquecer jamais, temos que registrar e aprender. Esta não foi a última calamidade que viveremos. Infelizmente, estamos sempre preparando uma nova contra a qual teremos que lutar também, e, por isso, é fundamental realizar o registro dos erros e acertos cometidos durante esse tempo.

   Não podemos deixar de registrar, e o Luiz o faz várias vezes neste livro, a questão da importância de termos contado com um SUS em toda a sua capacidade de assistir a nossa população. Sim, ele foi reconhecido e cantado. Mas temos que ir mais longe: não podemos esquecer!

E somos muito bons em esquecer.

   Mas mais do que isso, temos que lembrar que não é só o SUS, é a educação, a segurança alimentar, a seguridade social, o direito de ir e vir, a liberdade de imprensa, o direito à justiça, a inclusividade da sociedade. Enfim, não queremos só uma sociedade com um sistema de saúde bom, queremos uma sociedade que seja melhor para todos nós vivermos e é isso que vamos encontrar neste texto do Luiz: a busca de um mundo melhor para todos nós!

Parabéns, Luiz, e vamos em frente lutar as batalhas que virão para construir nossa utopia.

 

Professor Dr. Gonzalo Vecina
Médico e professor assistente da FSP/USP e da EAESP/FGV

Prefácio - Gustavo Mendes Lima Santos

   Além de farmacêutico, sou um historiador entusiasmado pela teoria da história elaborada pelo colega alemão Jörn Rüsen. Rüsen acredita que a história tem um método científico bem definido e, como ciência, pode orientar a vida prática do homem no tempo.

   Talvez ainda não tenhamos o afastamento temporal primordial para que seja possível analisar historicamente o que vivemos durante a pandemia de acordo com o método de Rüsen, mas a forma como o livro do Luiz apresenta a sua luta e a de diferentes atores contra as mazelas trazidas pelas fakes news aos brasileiros representa um material histórico muito relevante.

   Por meio da sua própria trajetória, o Luiz nos conduz para a sequência de acontecimentos técnicos, políticos e sociais daquele período e nos leva a reflexões não só sobre a importância da ciência, mas também sobre os esforços de tantos que sacrificaram seus dias e noites para trazer luz à população, numa época de tanta incerteza e obscuridade. Para quem viveu a pandemia envolvido nos meandros das decisões técnicas e políticas necessárias ao enfrentamento da doença sob a pressão de uma emergência em saúde pública, esse livro traz à memória episódios de muito orgulho, mas também de muita dor.

   Atuando à época como gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável para avaliação dos critérios de qualidade, segurança e eficácia dos medicamentos e vacinas desenvolvidos pelas indústrias farmacêuticas, pude viver na pele ocasiões de muita tensão por pressões e críticas infundadas, por vezes baseadas em fake news, tanto para aprovar produtos e indicações de medicamentos sem a devida comprovação quanto para desqualificar ou ameaçar servidores quando decidiam pela aprovação de vacinas. Mas houve momentos de muito orgulho também, por exemplo, quando as primeiras vacinas aprovadas foram aplicadas após um esforço árduo da equipe de especialistas da agência.

   Essa amplitude de sentimentos, que reflete exatamente o que vivíamos todos os dias ao ver as notícias publicadas no período mais duro da pandemia, faz com que a leitura desse livro não passe incólume. É uma história que precisa ser contada.

   Para quem não viveu a pandemia sob essa perspectiva, a jornada do Luiz trará dados e reflexões críticas para que seja possível uma análise aprofundada, mas também humana, sobre esse momento.

De perto ou de longe, a pandemia foi uma circunstância sem precedentes, que expôs o melhor e o pior de todos nós na tentativa de sobreviver. E é exatamente por isso que esse livro é tão importante: reascende em nós a certeza da imprescindibilidade da ciência e da história não só como conhecimento, mas também como um aprendizado, que deve para sempre ser lembrado.

 

Gustavo Mendes Lima Santos

Diretor de Assuntos Regulatórios, Qualidade e Ensaios Clínicos da Fundação Butantan e ex-gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos na Anvisa.

Prefácio - Luana Araujo

   Cada um de nós tem uma visão muito particular sobre a experiência da vivência da pandemia da covid-19. Para alguns, foi um trabalho exaustivo inédito; para outros, um sofrimento incomensurável; para muitos, uma mistura das duas circunstâncias; para todos, em maior ou menor grau, um evento inesquecível e traumatizante. Em cada uma delas, uma grande chance de as lentes pessoais obnubilarem a ordem e a intensidade dos fatos e, portanto, os ensinamentos preciosos cruciais no aprendizado científico, político e social e na predição e prevenção de desastres futuros.

A lucidez, como sempre, é antídoto para os vieses individuais que constroem a vulnerabilidade pessoal e populacional.

   Nas páginas deste livro, uma boa dose dela nos conduz por uma jornada através dos momentos decisivos e das ações determinantes que moldaram a pandemia da covid-19. Escrito por um pesquisador incansável e defensor incisivo da verdade, mergulhamos em um relato que enfileira os fatos desnudos do período, expondo, sem piedade, os labirintos da desinformação. No cenário caótico das fake news, este autor não apenas descreve os desafios enfrentados, mas também traz à luz a contenda incessante pela disseminação da verdade, cujo impacto transcende os limites da doença, da crise política, da formação em saúde, e se enraíza no bom senso e na ética. Ao folhearmos estas páginas, somos confrontados com a importância vital da informação precisa, com as reações viscerais que podem nos assolar frente às consequências letais das mentiras que ameaçam a saúde pública, e pela batalha incansável pela compreensão de que a ciência é inútil se não servir à coletividade e for assim percebida por ela.

   Luiz nos traz mais do que um relato histórico; faz um chamado à ação, um convite para nos unirmos na busca pela lucidez em tempos de inglória consagração da estupidez. Em mim, felizmente, encontrará sempre uma colega de propósito, de ofício, de resistência e de perseverança na luta, acima de tudo, pelas pessoas, pelo discernimento, pela equidade e pela justiça.

    Não esqueceremos. Nunca.

   Que este livro faça parte da materialização da memória de todos nós, que nos aproxime uns dos outros e que nos ajude a evitar que cometamos os mesmos erros.

 

Dra. Luana Araujo

Infectologista, epidemiologista e comunicadora em saúde

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